Fé não se discute
Nenhum homem, no meu humilde entender, nem pretendeu nem pretende conhecer e interpretar todas as Escrituras. A diferença se situa entre o fato de conhecê-las ou de ignorá-las.
Quando se acredita que Deus existe é assaz comum crer que Ele se comunica com os homens através de outros homens (oráculos). Crê-se, também, que as Escrituras, achando-se hoje ao alcance de todos, foram, ao longo dos séculos, preservadas pela própria providência divina para edificação espiritual da humanidade. De maneira que, especular sobre textos supostamente extraviados ou aniquilados constitui vã perspectiva; pelo que muitos nem sequer acreditam na veracidade da compilação bíblica, exceto, evidentemente, quando se trata de produzir um pretexto corroborativo da sua fé. Muitas vezes extirpam, sem escrúpulos, uma palavra, um verso, um parágrafo ou mesmo um capítulo inteiro do seu contexto histórico e sémantico, com o intuito indecoroso de ajustá-los à sua própria concepção, percepção e propenção religiosa.
No entanto, quando algum texto bíblico parece estar em discordância com as suas convicções, muitos lançam mão da mediunidade, imbuídos da esperança de que um espírito, de identidade não atestada, se manifeste para interpretar o texto supostamente discordante, para o esclarecer e para dissipar toda sombra de dúvidas. Infelizmente isso se faz em detrimento de toda exegese bíblica existente, a despeito de toda crítica literária efetiva, e de toda historicidade em adequação. As Escrituras constituem uma ciência, para que elas se nos tornem familiares é necessário estudá-las. Ninguém pode intencionar apreendê-las em um curto lapso de tempo, e nem a partir de uma só e única disciplina.
Quando se afirma que o Dalai Lama já entendeu [...] Fazendo assim apologia do seu grau de compreensão, um julgamento (verbo latino JUDICO = julgar e condenar, mas também apreciar, estimar e avaliar) é, então, emitido.
Em resposta ao seu supracitado julgamento, também eu, permiti-me salientar uma realidade sobremaneira preocupante e incontestavelmente eloqüente; uma vez que a vida de um homem dá testemunho, em príncipio, do espírito que o habita. A vida do homem em questão parece não estar em harmonia com os ensinamentos por ele predicados. Cf. Artigo assinado José Antonio EGIDO, datado do 22 março 2008 : Por el pueblo de Tibet y contra el feudalismo lamaísta. Fatos denunciados por José Antonio EGIDO e desgraçadamente ignorado por tantos discípulos e simpatizantes do ser espiritual tibetano.
- Eu imagino quão frustrante deve ser descobrir que as atitudes do Dalai Lama, ou melhor, as atitudes de um espírito dito iluminado, de um espírito dito evoluidíssimo, vindo direto do Nirvana, possam negar e, na melhor das hipóteses, compromissar a sua santa procedência. Do Nirvana ao Pentágono. VANITAS VANITATUM ET OMNIA VANITAS.
Eis uma espécie de aporia... ou se trata, efetivamente, de um espírito reencarnado, evoluído, havendo abandonado seu estado de ataraxia para vir à Terra em missão especial e em prol da humanidade; Porém, isso estaria em contradição com a suposta luz que lhe é atribuida e celebrada, ou então, Sua Santidade, o 14° Dalai Lama, nada mais é do que um hábil político que impressiona populações inteiras, menos avisadas, com dóceis palavras e frases pacíficas, dignas de um personagem experimentado na arte da retórica, sabendo proclamar virtudes e reiterar valores universais (comuns a cada civilização e cultura) que, desde o ANNO MUNDI, têm sido por tantos outros muitas vezes verbalizados. Como disse eu em uma das minhas epístulas precedentes, trata-se de VERBA PUBLICA.
Aquele que julga será julgado. Tal é o testemunho das Escrituras reputadas por sagradas. Dessarte, por intermédio dessas mesmas Escrituras, aprendemos que o homem se deixa conhecer pelos frutos que produz.
Também eu, talvez equivocado, nutro grande cepticismo a propósito do que foi a fé e a honestidade dos saduceus. De fato, esses não criam na ressurreição dos mortos, doutrina singular neste velho mundo, aliás, doutrina de seus próprios ancestrais e crença judaica de outras facções judaicas que lhes eram contemporâneas. Quanto aos saduceus, ainda hoje pouco se sabe, não obstante, tudo ou quase tudo do que se conhece, desaprova, reprova e condena a corrente judaica dos chamados, em hebraico, Tsaddoukim; os que depositavam a sua fé unicamente no Pentateuco. Além das poucas alusões encontradas no Velho e Novo Testamentos, ler também o historiógrafo Flavius Joseph, 37- 100 A .D. (Antiguidades judaicas).
São encontradas na Bíblia 13 passagens referindo-se aos Saduceus e nada menos que 87 a respeito dos Fariseus. Esses textos colocam em causa o coração e as atitudes desses e daqueles. Todavia, esse assunto não constitue, absolutamente, o epicentro das nossas controvérsias filosófico-religiosas, nem tão pouco o tema inicial do nosso debate via net.
Em suma, quer sejam Saduceus, quer Fariseus, quer Zelotes, quer Herodianos, quer Publicanos, ou ainda musulmanos, hinduístas, budistas, cristãos e espíritas, o Mestre Messias quis ensinar o uso da misericórdia para com todos os homens (Άνθρωπος) e a prática da oração em favor da humanidade, para que cada um seja persuadido a palmilhar o caminho da cruz, o caminho da mediação e da graça. A súplica que fora proferida pouco antes ao paroxismo do escândalo da cruz e que ainda retumba nos ouvidos receptivos, os instrui e os adverte : Pai, perdoa-lhes porquanto não sabem o que fazem. Lucas 23;34.
Os Saduceus, que apesar de Semitas distinguiram-se, aparentemente, pelo mesmo rigor, pela mesma implacabilidade, pela mesma presunção e pela mesma jactância dos anti-semitas de todos os tempos, podem, effetivamente, ser assimilados a esses anti-semitas, que penetrados de preconceito, de discriminação religiosa e de xenofobia, vêm ostentando e, concomitantemente, dissimulando uma estreiteza de espírito sem paralelo ao longo da famigerada história das civilizações (seria por complexo de inferioridade, por inveja, ou simplesmente, como diríamos em terras brasileiras, por dor de cotovelo.). A ignorância conduz ao crime. É importante notar que não somente os Saduceus, mas todo aquele que se lança na leitura de um texto dito sagrado, com um coração acusador, renega sua fonte inspiradora e descredita a eminência parda que se supõe constituir a essência do seu conteúdo textual.
Você não acretida na eleição de um povo segundo a vocação, parabéns ! Consinto plenamente. Com effeito, nem com os lábios e nem com a pluma jamais me aventurei em sustentar um tal propósito, id est, a existência de um povo eleito, predestinado à salvação, e, também não, que para os judeus há exclusividade consoante a paternidade divina. NON ERAT HIS LOCUS. Você seguramente se equivocou com respeito ao interlocutor (ao espírito interlocutor), ou meramente redigiu uma observação gratuita. Poderíamos talvez tirar melhor proveito das nossas confabulações se nos limitássemos a tratar dos assuntos então evocados, se nos mantivéssemos sob o mesmo registro, evitando, assim, digressões deliberadas, para que não houvesse nem transgressão nem sabotagem das regras bem estabelecidas do diálogo. Se o mínimo de dialética não puder ser observado, haverá risco de perversão de todo e qualquer diálogo, que, profanado, achar-se-á inevitavelmente reduzido a um colóquio que me é ádvena. Nesse âmbito não sou useiro nem vezeiro. Cf. Artigo Machismo ao feminino, parágrafo 2 e 26, O clamor do Il Babbuino contra uma amiga alcunhada Miss Machista. Luiz MacPontes.
Memento : Esse debate se articulava, por um lado, em torno da autenticidade da origem mística do atual Dalai Lama e, por outro lado, em torno da doutrina da reencarnação em oposição a doutrina da ressurreição. Retenhamos o sujeito da oração ! Retenhamos os assuntos debatidos ! Para que não haja perda do nosso tempo, porquanto o estimamos precioso.
"Jesus recebido pelos Essênios". Duvido ! Invade-me a destabilizadora fragrância de cepticismo. Não há nenhum registro escriturístico. Os Pais da Igreja também nada escreveram a esse respeito. Nos livros apócrifos nenhuma alusão é feita. Nos escritos intertestamentários nenhuma referência há. Nos manuscritos de Qumram (do mar Morto) menção alguma se encontra. Nem Flavius Josephus, nem Fílon de Alexandria e nem Plínio, O Velho, absolutamente nada nos legaram que nos permita chegar à tal conclusão. Aguardo, ansioso, referências ad hoc. Em contrapartida, à luz dos manuscritos de Qumram, pode-se hoje constatar, e sem surpresa, que os Essênios criam na ressurreição do mortos e no juizo de Deus relativo ao seu aspecto escatológico.
Outrossim, sob a égide da aliança abraâmica, três religiões monoteístas de relevância confirmada, a saber, o judaísmo, o cristianismo e o islamismo, contam bilhões de fiés que partilham, em princípio, as crenças excepcionais da ressurreição dos mortos e a do juizo derradeiro de Deus.
Precisamos ler muito, e ler muito mais do que todos os preceitos de todos os cognominados Emissários do Pai. Mesmo porque, cada qual, segundo a sua fé, venera a antologia na qual se compraz.
Convém ler, exempli gratia : Os quatro Evangelhos, as Epístolas Apostólicas, a correspondência epistolar pauliniana, o corpus veterotestamentário, os Escritos Patrísticos gregos e latinos cujos autores mais reputados são : Inácio de Antioquia, 30-109 A.D. (Epístolas Apostólicas) , Ireneu de Lyon, 140-185 A.D. (MAGNUM OPUS , Adversus Haereses), Tertuliano, 160-240 A.D. (MAGNUM OPUS, Apologetica), Clemente de Alexandria, 150-200 A.D. (ler otratado da moral cristã) , Orígenes de Alexandria ou de Cesareia, 185-254 A.D. (apologista da apocatastase / MAGNUM OPUS, As Hexaples), Cipriano de Cartago, 200-258 A.D. (ler o tratado Ad Donatum), Eusébio de Cesareia, 265-340 A.D., Jerónimo de Strídon 340-420 A.D. (MAGNUM OPUS A Vulgata, se possível lê-la em latim). Convém ler Agostinho de Hipona, 354- 430 A.D. (do vasto corpus agostiniano, ler prioritariamente SoliloquIorum e o Tratado sobre a imortalidade da alma), João Crisóstomo, 349-407 A.D. (ler, com horror, Adversus Judaeos).
Convém ler a Septuaginta, obra dos setenta judeus eruditos e helenísticos de Alexandria, segundo a tradição. Convém ler os manuscritos traduzidos de Nag Hammadi,bem como os manuscritos traduzidos de Qumram. Convém ler Erasmus Roterodamus (séc. XV-XVI), sua versão novum testamentum considerada textus ab omnibus receptus e, também, sobre a sua teologia escolástica. Convém ler, de seu amigo Thomas More (séc. XV-XVI), pelos menos Utopia. Convém ler o reformador Martinho Lutero (séc. XV-XVI), suas 95 Teses pregadas sobre as portas da capela do castelo de Wittenberg, A confissão de Augsbourg e, arrebatado de emoção, a Teplice Bohémienne. Convém ler João Calvino (séc. XVI), começando pela Instituição da Religião Cristã, sem esquecer, obviamente, a Bíblia da Espada. Convém ler Teodoro de Beza, John Knox, Guillaume Farel, Pierre Robert Olivétan et caetera. Convém ler o mais célebre dos discípulos de Sócrates, um certo Platão, e da sua obra ler, quando menos, Fedro, Fédon e a Teoria sobre a metempsicose considerada por Sócrates (inspirada do mito de Orfeu, herói epônimo do orfismo) durante as horas que precederam o seu falecimento provocado pela ingestão de cicuta. Convém ler, igualmente, A República, onde Platão apresenta o mito de ER; rudimento do que seria no século XIV o Purgatório de Dante Alighieri, na sua Divina Comédia. Convém ler sobre a teoria platônica da reminiscência, exposta de maneira mais evidente em Mênon. Convém ler Homero, Ilíada e Odisséia, principalmente, mas também o Hino Homérico a Deméter, que narra a história fantástica de Perséfone, divindade mitológica grega que condenara o homem a errar de vida carnal em vida carnal, acometido de esquecimento da sua origem divina (Cosmogonias Órficas). Convém ler A porta das Reencarnações (judaísmo cabalístico, místico, esotérico). Convém ler o historiógrafo Flavius Josephus (37-100 A.D.), e Plínio , O Velho, naturalista romano (23-79 A.D.), e, ainda, o filósofo Fílon d’alexandria (12 A.C – 54 A.D.). Convém ler René Descartes (séc. XVI) e refletir a respeito do seu axioma: "COGITO ERGO SUM". Convém ler Jean-Jacques Rousseau (séc. XVIII) e seu best-seller intitulado : Do Contrato Social, fundamento da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Convém ler, da epopéia Mahâbhârata (mitologia hindu), ao menos o Bhagavda-Gita. Convém ler o Alcorão e meditar sobre as suas suratas et caetera et caetera.
Convém que cada um leia muito além do florilégio que adotou. É necessário que se tenha um certo conhecimento pluri-teológico para que se possa começar a balbuciar uma hipótese teológica relativamente assentada. A teologia, desde outrora até os nossos dias, constitui uma disciplina acadêmica ensinada e estudada nas mais preclaras universidades do mundo considerado desenvolvido. Não confundir o mestre Nicodemos com o Pastor João e a Igreja Invisível (Título de uma canção de Raul Seixas).
Até mesmo Paulo Coelho e Chico Xavier, literariamente de um outro e parco calibre, admitamos, devem ser lidos. O Brasil é um país distintamente místico. Do xamanismo nativo ao catolicismo dantes imposto, passando por muitas outras orientações religiosas, jaz no Impávido Colosso um misticismo amiúde coroado de extravagante sucesso. Posto isso, que outro gênero de autor, ou que outra sorte de literatura de cunho filosófico-religioso me seria por você sugerida? Ainda não recebi nenhuma referência. É necessário preservar o espírito científico justaposto à fé, o empirismo acarreta freqüentemente distorções à realidade, aliás, ao conceito que cada um imputa à realidade.
Lamento desapontá-lo, contudo, minha opção responsiva concernente a estas questões existenciais é, mormente, firmada na fé; a fé não requer conhecimento nem iniciação, mas no presente caso a fé que eu confesso não deixa de ser bem pesada, bem medida, bem suputada, bem meditada e refletida por intermédio de estudos de textos sagrados, religiosos, filosóficos, históricos, arqueológicos et caetera. Minha fé repousa na doutrina da ressurreição dos mortos e no princípio da apocatástase.
Continuo crendo, contando com o seu beneplácito, naturalmente, na palingenésia neotestamentária pela mediação de Jesus, O Cristo; receptáculo da minha fé. No entanto, não ouso fazer proselitismo, evito posturas arbitrárias, não imponho minha crença a niguém, não me autorizo fazer juízos de valor e muito menos criticar a fé de outrem. Antes, regozijo-me na minha própria esperança, da qual sou tributário. Por isso, me contento unicamente em preservar a liberdade de retorquir quando acquiesço em ser arguído. Talvez haja nessa atitude uma centelha de sabedoria. Quão melhor poderia ser o mundo se cada um se comprouvesse na sua fé.
A biocracia é objeto da fé de miríades e miríades de almas disseminadas numa extenção que cinge o planeta de polo a polo. Na ausência de uma resposta convincente e, talvez, mais apropriada às questões fundamentais que cada qual não cessa de se colocar até o derradeiro instante, a teoria da evolução das espécies bem como a da seleção natural das espécies são ensinadas em todos os estabelecimentos de ensino de todos os paízes cujo regime governamental é caracterizado, particularmente, pela laicidade.
Ora, até o presente momento ninguém se atreveu substituir o vocábulo teoria, da herança conceitual darwiniana sugerida nos seus trabalhos de pesquisa relativos a Teoria da evolução das espécies, por Verdade da evolução das espécies. Em contrapartida, essa teoria, que subsiste teoria até prova em contrário, é veiculada sob a designação de Verdade sobre a origem da vida biológica e inculcada na humanidade como disciplina científica. Tratar-se-ia de um tipo de integrismo laico? Em todo caso, há nisto, uma formidável dose de lavagem cerebral.
A biocracia conduziu o homem ao eugenismo, e o eugenismo ao eugenismo macabro; a exemplo daquele engendrado pela NSDAP, que cobriu a humanidade de infâmia. Recorda-se, ainda, com profunda consternação.
Quando, sem se indagar, crê-se em uma teoria, porquanto as provas em apoio a esta pretensa verdade se mostram insuficientes ou inverificáveis, pode-se admitir ser fundamentalista, e viver da fé, pela fé, sendo esta cultural ou não. Tantos são os egrégios personagens que, professando o agnosticismo, consultam ordinariamente videntes, astrólogos, médiuns etc. Tantos outros acreditam na imortalidade da alma e, ainda tantos outros, na ressurreição dos mortos.
Que a nossa relação não seja maculada por causa de discordâncias relativas à fé, mesmo quando é ela orientada, seja ela ou não sustentada por pilares acadêmicos. É esse o meu mais sincero voto.
Fé não se discute. Que a paz e a misericórdia de Deus seja com todos nós.
Le Père Louis (Luiz MacPontes)