Site SAPPNO e a classe média golpista
Numerosos são os vídeos de cunho propagandista que circulam, jà há algum tempo, pelas redes sociais. Muitos deles são coroados de um sucesso ímpar nas entranhas da tristemente notória classe média brasileira, aliás arregimentada, principalmente, no seu quartel general i.e., um dos Estados do sudeste do Brasil onde sua representatividade é incontestável e o seu resplendor ofuscante. http://br.luizmacpontes-insurrection.com/correspondance-epistolaire/8--o-clamor-do-il-babbuino-contra-a-classe-instrumentalizada
Recentemente assisti, não sem dissabor, um desses vídeos elaborados com o desígnio dissimulado de intoxicação intelectual via uma propaganda política das mais grotescas.
Esse tal panfleto eletrônico assina sua mise-en-scène com o logotipo dos maçons do Brasil-BR, onde pode-se ler a exortação : « compartilhe », e a divisa « Avança Brasil/ Mudança já ».
Editado pelo site SAPPNO TV, um site aparentemente brasileiro, talvez com patrocínio estrangeiro — não seria a primeira vez —, que mesmo sem assumir explicitamente sua orientação política superabunda em efusões caricatas peculiares a certos partidos políticos brasileiros e a seus acólitos levianos ; pequeno-burgueses individualistas e iletrados, que satisfeitos com a sua imaturidade política hostilizam o partido que busca auxiliar o miserável, o desvalido, o desamparado. http://br.luizmacpontes-insurrection.com/correspondance-epistolaire/8--o-clamor-do-il-babbuino-contra-a-classe-instrumentalizada
As imagens se sucedem numa progressão doutrinadora capitosa, desfilam acompanhadas de um texto ardiloso destinado a um público pretendido facilmente impressionável ; provavelmente, por carência de sustentáculo didático, contudo eleito golpista porquanto desventuradamente manipulável e, por conseguinte, receptivo.
A primeira imagem exibe Dilma e Lula lado a lado, um slogan em primeiro plano sobreposto horizontalmente a ambos de um extremo ao outro da photografia. Letras capitais escarlates e desmesuradas, tão vultuosas quanto o propósito abjeto de tecer um amálgama entre o PT, a vítima do golpe, seu homólogo predecessor e o populismo.
O realizador desse panfleto audiovisual propõe uma redação articulada através de uma cadência irresponsável de vieses cognitivos e de paralelos improcedentes. Um texto que constitui o suprassumo dos embustes, porquanto do prólogo ao epílogo sugere como sujeito o populismo, no entanto, em um passe de sugestão, uma manobra tosca, mas aparentemente persuasiva, faz da doutrina populista o predicado dos sujeitos Dilma, Lula e PT ; quiçá sujeitos não explícitos. Explícito, todavia, a ponto de ferir a sensibilidade do espectador avisado é, irrefutavelmente, o intento de desqualificar o governo considerado de esquerda, no poder desde 2002 —, pedra de tropeço para a classe média brasileira — mais do que nunca instrumentalizada.
O rubro da imagem subseqüente, a segunda da sinistra série, faz sobressair dos autores do tract audivisual o escopo, encapelado e irredutível, de sedição contra o governo então vigente, mas atualmente deposto —, a pedra de tropeço — visto que a multidão carmesim, aglutinada em um mega comício, é susceptível, por si só, de provocar em cada analfabeto polílico um sentimento de pavor, injustificável mas autêntico, que o conduz a « amar o opressor e a odiar o oprimido ». Malcolm x.
As demais imagens, corroboradas pelo texto que alguns pretendem ser ilucidativo — dupla dinâmica com propensão à subliminalidade — inscrevem-se acintosamente na mesma, única e desoladora predisposição.
Prossegue, ao longo do audiovisual purulento até o seu desfecho, a coreografia verbal de mãos dadas com as tempestivas ilustrações ; de quando em vez o fundo encarnado, mas em momentos estratégicos, faz também oportunas aparições.
A verborragia tresloucada desdobra-se nestes termos : “O discurso do populista visa provocar o ódio na sociedade, o povo passa a odiar o anti-povo (ricos, banqueiros, imperialistas, colonialistas, elites). O povo recebe qualificativos (honrado, generoso, honesto e que sempre escolhe o melhor líder), uma parte do povo se identifica com o líder populista, o populista só faz o bem, mas o mal é obra do anti-povo. O populista emprega o método de lavagem cerebral por meio do radio, da televisão, das redes sociais e do programa educacional. O líder populista procura enfraquecer os poderes legislativo, executivo e judiciário para governor sozinho. O populista procura satisfazer as necessidades sociais pela propaganda onde só o líder oferece a solução, aumentando as despesas do governo e multiplicando as estatais onde emprega amigos e parentes inúteis. O populista aumenta as dívidas e os programas sociais (diversas bolsas para os pobres), e para financiá-los aumenta os impostos, a dívida pública e a inflação. O Estado torna-se cada vez maior e mais incompetente, a arrecadação aumenta, mas não alcança jamais a despesa. Os serviços públicos vão piorando. O programa populista incentiva o consumo, afasta os investidores e faz a economia encolher até a hora em que o dinheiro acaba gerando a recessão, com inflação e desemprego. O governo populista passa a tomar outras medidas radicais como controle de preços, confisco, contrôle de importação, até que a economia entra em colapso (o que está acontecendo na Venezuela, Argentina, Rússia e Brasil), mas a culpa nunca é do populista, quando tudo vai mal o populista põe a culpa nos inimigos internos e externos que foram previamente inventados (FMI, Banco mundial, Estados Unidos ou elites). Enquanto no resto do mundo as pessoas estão escapando da pobreza, nos países populistas a pobreza continua aumentando, os populistas amam tanto os pobres que os multiplicam ".
Medonho ! Vê-se que o palavrório utilizado, desajuizado, ríspido, prosaico e calculado, tem por alvo a acéfala classe média nacional que, por sua vez, faz jus a sua deplorável reputação —, a única classe susceptível de assimilação cognitiva, quando espectadora de estratagemas audiovisuais deste calibre. http://br.luizmacpontes-insurrection.com/correspondance-epistolaire/8--o-clamor-do-il-babbuino-contra-a-classe-instrumentalizada
No entrecho desse video catequizador o substantivo "populismo" é hasteado no mastro da sua accepção pejorativa, sinônimo de hipocrisia, de perfídia, de demagogia política. Nenhuma analogia com outras ideologias políticas é proposta, nem mesmo com a mais expansionista cujo deus capital, adorado pelos seus fiés, é saciado com sacrifícios de seres humanos oferecidos em holocausto sobre o altar da infâmia.
Na América Latina o termo "populismo" é ordinariamente empregado para designar a inclinação política dos governos de Juan Péron na Argentina, de lázaro Cárdenas no México e de Getúlio Vargas no Brasil. Quem não ignora as medidas tomadas pelo presidente Vargas na esfera da segurança social e dos direitos trabalhistas divisa o populismo através de uma retina psicológica impoluta.
Diversos arquétipos da ideologia populista têm sido identificados em diferentes nações europeias, a exemplo da Polônia, da Itália, da Alemanha, da Rússia e mesmo da França com Napoleão III, nos idos do século XIX, e mais recentemente com o françês Jean-Marie LE PEN, pioneiro do Front National.
Os líderes políticos africanos Abdel Nasser do Egito, Al Kadafi da Líbia e Julius Nyerere da Tanzânia encarnaram um certo populismo, com unhas e dentes.
Nos Estados Unidos da América o presidente Roosevelt, os candidatos à presidência da Républica Ross Perot e Patrick Buchmann também fizeram do populismo a sua ideologia política, e sem constrangimento, com propriedade e determinação, denunciaram o bipartidarismo tradicional americano aliado às elites políticas ancestrais.
Se é verdade que o populismo denota uma consciência simpatizante ao anti-intelectualismo, ao anti-parlamentarismo, ao anti-urbanismo e, concomitantemente, se arvora favorável à xenofobia e ao racismo, indaga-se sobre a peripécia surrealista que consente estabelecer um vínculo entre Lula-Dilma, o PT e o populismo.
A quem aborrecem, precisamente, as iniciativas nacionais de reforma política e social necessária e incontornável ? Sabe-se, não obstante, que tal reforma constitui, ipso facto, um entrave aos interesses financeiros de muitos canibais corruptos, ou melhor, de muitos honrados cidadãos e preclaros personagens representantes da classe dominante.
A adversidade, a indigência e os martírios acarretados pela cupidez colossal de potestades estrangeiras e de poderios econômicos nacionais, a ingerência praticada em assuntos políticos brasileiros e os desajustes suscitados pela classe elitista autóctona, delinqüente e escravagista, foram minimizados. "O anti-povo já não é o algoz do povo, é antes uma invencionice dos populistas que "amando tanto os pobres se esforçam em multiplicá-los ". Vide supra parágrafo 12.
Benito Mussolini, fascista, e Vladimir Putin, autocrata, foram comparados a Hugo Chaves. Veja-se que há no Brasil, amiúde, diabolização dos programas sociais, como se esses não existissem em países reputados por democratas e desenvolvidos, e.g. França, Alemanha, Inglaterra, Holanda, Suíça, et caetera.
Nesses países acima mencionados, mas também em muitos outros de mesmo quilate, a verba destinada à segurança social, advinda dos cofres públicos, é relevante, porém justificável.
As populações nativas, cidadãos majoritariamente responsáveis, providos de uma consciência política conseqüente, apreendem sem dificuldades a importância de uma sociedade mais equitativa, onde um pouco de harmonia não constitui luxo algum ; por essa razão aprovam e muitas vezes bendizem os programas sociais idealizados e propostos pelos seus dirigentes, ainda que sob a desaprovação da ressurgente e perigosa extrema-direita nazista.
No Brasil, a fome representava, e já não representava nos anos petistas; mas atualmente retomou à representatividade de outrora, avassaladora, um dos maiores cataclismos sociais já repertoriados. O próprio povo, especificamente o verdadeiro anti-povo, i.e., a crédula classe média, a mesma já tantas vezes denunciada, diplomada nos nossos estabelecimentos de ensino, ou não, que abomina toda e qualquer iniciativa em prol das legiões brasileiras de desvalidos. Essa classe parece preferir moradias protegidas com janelas gradeadas e cercadas com muralhas salpicadas de cacos de vidro, vigias, porteiros, seguranças, interfones e outros dispositivos de proteção a permitir que o seu compatriota, excluído social, tenha acesso a uma digna e básica qualidade de vida, aliás, pormenorizada na Constituição. República Federativa do Brasil, 1988. Título I, Dos Princípios Fundamentais. Título II, Dos direitos e Garantias Fundamentais.
Alguns pensadores brasileiros crêem, quando uma parte da verba pública é destinada à realização ou à consolidação de programas sociais, que há, entre os dirigentes eleitos por sufrágio universal, comunistas disfarçados de democratas encarnando uma ameaça que deve ser definitivamente erradicada para que o bem-estar econômico e social da nação brasileira seja preservado. Macarthismo à moda brasileira ? A piada não vale esta desgraça intelectual.
A ideologia comunista carrega consigo seu quinhão do sublime, logo incompatível com a natureza humana, razão pela qual jamais houve governos nem sistemas comunistas no planeta dos predadores entrajados, a vetusta Terra.
A doutrina comunista, de todas e de longe a mais cristã, porquanto solicita entrega, desapego e coibição do ego, que cede lugar ao interesse pelo outro, o altruísmo, camarada da empatia; a empatia, camarada da solicitude. Alexandre Dumas faz da divisa tradicional da Suiça : Unus pro omnibus, omnes pro uno, a divisa apócrifa dos Três Mosqueteiros.
O adágio do historiador françês Louis Blanc reiterado por outro francês, homem político e comunista cristão, Étienne Cabet, mais tarde retomado por Karl Marx e Pierre Kropotikne, faz de cada ser humano um possibilitado e de cada ser humano um necessitado : "De cada um segundo as suas possibilidades e a cada um segundo as suas necessidadades ", ideologia comunista prefigurada em Atos dos Apóstolos cuja semente raramente encontrou terreno fértil no coração do ser humano.
Não há, portanto, para o comunismo, assim como também não há para o cristianismo, nenhuma condenação. A dificuldade está em ser autêntico comunista e autêntico cristão. " Não havia, pois, entre eles necessitado algum ; porque todos os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido, e o depositavam aos pés dos apóstolos. E repartia-se a cada um segundo a necessidade que cada um tinha. Atos dos Apóstolos 4 : 34-35
O comunismo jamais transpôs as fronteiras da sua dimensão teórica, nesse babélico mundo o monstrengo vermelho se chama fascismo, o comunismo tem sido o seu bode expiatório. A grandeza do cristianismo não está na cruz, mas no Ungido da cruz, assim como a grandeza do comunismo não está no espectro do comunismo, mas na sua alma.
O cristianismo patenteia o comunismo com Deus — operante. O comunismo patenteia o cristianismo sem Deus— inoperante. Glórias, então, ao fascismo; também pintado de vermelho porquanto cruento, e chegou para reinar tanto tempo quanto a humanidade condescender em permanecer serva da sua inclinação humana.
O populismo reprovado nesse vídeo nada mais é do que um pretexto descabido com o propósito de desqualificar Lula e Dilma, as suas reformas sociais e, outrossim, justificar o golpe dissimulando as intenções dos golpistas.
Aqueles que despertaram abruptamente de um sono abissal e que nas suas visões oníricas aspiraram pasteurizar o único governo corrupto brasileiro, o governo petista, hoje, se honestos são, deveriam, humildemente, reconhecer a falta e viver o remorso, e lastimar.se, e chorar de arrendimento, e suplicar o perdão (Comissão de Verdade e Reconciliação-Nelson Mandela) daqueles que não compactuaram com os gangsters do golpe.
Doravante é impossível ao sensato cidadão brasileiro contemplar a nossa atual conjuntura política sem cogitar a respeito do golpe, do retrocesso social já iniciado, da hecatomba econômica iminente e, em síntese, a respeito desta calamidade nacional que nos humilha.
A quem apresentar a queixa ? A quem recorrer? Já que o Supremo Tribunal Federal é o living room de um covil de malfeitores ? A nação foi currada.
Il Babbuino (Luiz MacPontes