sic transit gloria ecclesiae
O apóstolo Paulo proclamou a religião fundada sobre o querigma, sobre o Cristo crucificado, morto e ressuscitado. Romanos 8:24. Homem Deus e Filho amado, que tira o pecado (lat. peccatum = falta, erro, má ação, crime) do mundo. João 1:29.
A identidade da Igreja cristã durante diversos períodos e sob diversas etiquetas, desde o início da nossa era até os dias presentes, persiste em se afirmar como portadora de uma mensagem curiosamente descabida, vergonhosamente enganosa e sinistramente alicerçada na tirania do anti (gr. anti = contra, oposicão, ação contrária, em frente, no lugar de, etc.), pervertendo por conseguinte o santo substrato sobre o qual foi ela erigida.
As Igrejas cristãs atravessaram séculos acometidas desta espécie de devoção intransigente do mortal em prol do Imortal, do efêmero em benefício do Eterno, do corrompido a serviço do Puro, do vulgar em socorro do Excelso. Esforçando-se em advogar a causa do Cristo, apoderaram-se das Suas prerrogativas para em Seu nome arbitrar.
Atravessaram, efetivamente, muitas épocas prodigando este gênero de zelo inclemente oriundo da carne, porque se auto-elegeram juiz na carne e se auto-proclamaram legislador pelas exigências da carne na carne. Só Deus é juiz e legislador. Tiago 4:12. As Igrejas julgam e condenam energicamente usurpando, assim, e descaradamente, a autoridade do Espírito que, nem sempre, como a trajetória maculada do cristianismo evoca, trata-se Daquele que inspirou a Igreja em Éfeso.
As Igrejas do anti nutrem-se dos anti, proliferam nos anti e se glorificam, sem recato nem constrangimento, na precariedade da sua fé. Os anti da atualidade, aqueles que gozam de maior sucesso, vedetes no hit-parade mundial das congregações de fiéis, resumem-se, deploravelmente, a anti-tabaco, a anti-álcool e a anti-drogas pesadas. Ora, o vício é certamente uma das exteriorizações do virus (lat. VIRUS = seiva, suco das plantas, humor, veneno, peçonha, amargor, mau cheiro) do pecado, todavia, pode-se constatar, com assombro, que ninguém mais ousa articular uma só palavra contra o orgulho, contra a vaidade, contra a inveja, contra a ambição e, também não, contra muitas outras inclinações humanas, nas quais e pelas quais os delitos e crimes são engendrados e, freqüentemente, concretizados.
Muitos dos anti que não constam ou que não aparecem explicitamente assinalados na legislação deuteronômica, e menos ainda no decálogo; o fundamento intrínsico às constituições ocidentais modernas e, talvez, post-modernas, são, não somente tolerados no seio das coletividades religiosas como escandalosamente minimizados. Enquanto que o homicídio, o furto, o adultério, considerados francamente ilícitos pela lei mosaïca, são geralmente encarados com horror, como se as exteriorizações do virus do pecado, certamente repugnantes, fossem mais abomináveis do que os pecados originais, isto é, do que o virus do pecado propriamente dito, de cujo cada ser humano é portador.
Os efeitos deletérios do pecado assim como o pecado, stricto sensu, são reduzidos, no seio da atual e virtuosa cristandade, a um conceito tridimensional profano. A própria natureza do pecado é compreendida a partir desses três anti indicados supra e, tragicamente, considerada sob o prisma de uma associação com a consumação dessas substâncias psicotrópicas, a tal ponto que uma correlação direta e infâme é, habitualmente, estabelecida entre o usuário e o pai da mentira, ao passo que a mentira, esta chaga, jamais foi reprovada com tão intenso rigor, nem rechaçada com tão veemente repulsa. Eis a fronteira insolente, ridícula e absurda entre o que as santas Igrejas entendem serem faltas inócuas e o que elas desdenham por serem práticas mundanas. Fazem, assim, triste figura de oráculo improvisado, submersas num sentimento psico-romântico triunfalista, infectadas por um maniqueísmo judeo-cristão tendenciosamente desmedido e desventuradamente caótico. Com rispidez, infatigáveis, determinam os limites entre o augusto e o torpe, e entre a luz e as trevas, e entre o bem e o mal; infalíveis, os disseminam por toda a Terra.
Quando alguém sofre da servidão provocada pelo vício, ou se encontra cativo de um mau hábito amiúde acalentado, ou ainda se entrega ao consumo esporádico dessas substâncias psicoativas, gênero de conduta comumente interpretada como dependência física ou psicológica, como fraqueza e mesmo como possessão demoníaca, as Igrejas assentam-se sobre o pináculo da sua psicose e não ocultam sua execração para com o que elas reputam ser pecado e, muito menos, para com os que elas acusam serem pecadores.
Com efeito, sob o domínio da autodestruição denunciada acima e diabolizada pelas Igrejas, mas também na usança da mentira, na prática da difamação, na experiência da perfídia, da injúria, da prevaricação e, sobretudo, sob o império do ódio, não pode haver remissão para a alma impenitente, Deus o afirma, Deus nos adverte. Deus arca com as Suas divinas e respectivas responsabilidades. Até aqui não há empecilhos no tocante a compreensão.
Em contrapartida, quando as Igrejas deliberam apropriar-se do cetro demiúrgico com o objetivo de mensurar a amplitude da falta, fazendo distinção entre pecado e pecado, entre pecado venial e pecado mortal, a fim de aplicar ao transgressor medidas que lhes parecem judiciosas, de indulgência e de tolerância ou de censura e de exclusão, então, entraves ao raciocínio podem efetivamente sobrevir; um verdadeiro desafio à capacidade de reflexão da qual é dotada a raça humana. Exemplo revelador: Não há membro de Igreja que seja passível de condenação ao ostracismo do club dos santos por prática flagrante de maledicência, de calúnia ou de intriga. Intriga entre irmãos é abominação ao Senhor. Provérbios 6:16-19.
A respeito da língua (orgão, músculo) e de seu emprego descontrolado e viperino, o inspirado apóstolo Tiago nos legou, nada menos, que um capítulo inteiro. Tiago 3. A hipocrisia é igualmente reprovada na Bíblia, inclusive pela boca do Messias, pela boca do Deus-homem, pela boca do Caminho, pela boca da Verdade e pela boca da Vida. O Verbo encarnado verbalizou Sua aversão no que diz respeito a esse defeito moral, no entanto, ainda hoje é facultada a possibilidade de ser, simultaneamente, hipócrita convicto e íntegro membro de Igreja.
A mãe das Igrejas dos anti, do anti-semitismo ao anti-contraceptivo, do anti-reformismo ao anti-humanitarismo, do anti-modernismo ao anti-socialismo; mãe dos rituais, mãe das relíquias, mãe dos dogmas, mãe das tradicões, mãe das ladainhas, mãe das jaculatórias, mãe da infalibilidade, mãe do culto de dulia, mãe da transubstanciação, mãe das interdições extravagantes e perseguições abjetas, soube conservar durante longos períodos de privilegiadas aliançasdiplomáticas e de comprovada compostura política, através de cautelosa dissimulação, seu caráter imperialista e alienador forjado sobre o pedestal das dinastias do anti, e se pretende, mais do que nunca, universal (gr. καθολικός) visto que, mais do que nunca , aspira impor seus valores ao cosmos e se assume como Igreja romana, de língua romana, de administração romana e de hegemonia e orgulho romanos. Que ninguém se engane! Que ninguém olvide, contudo, que diversas dessas peculiaridades inerentes a esta instituição não lhes são exclusivas, não representam, absolutamente, o perfil desnaturado de um caso isolado de cristianismo, muito pelo contrário, numerosas organizações cristãs padecem de muitas destas mesmas moléstias espirituais e carecem do mesmo pão, o Pão da vida.
O apóstolo Paulo não poupou esforços quando se tratou de revelar aos povos e às nações a índole divina deste Messias, que o impressionara deveras. Antes, deixou-se conduzir plenamente pela santa incumbência lhe tendo sido confiada do alto, consentiu exaurir-se por amor ao Mestre, por amor ao nobre mister e por amor ao eminente sacerdócio. Esvaziando-se do seu ego, combatendo o bom combate (Timoteo 4.7), aguerrido na árdua peleja do espírito contra o carne, refusou o ócio espiritual e nos preconizou a religião do Pro (gr. pro. = movimento para frente, posição em frente, anterior, antecipado, em defesa de, por causa de etc./ lat. movimento para frente, diante, por, a favor de, etc.), i.e., a religião do Pro-Cristo, a religião cristocêntrica.
A religião do Pro-Cristo não se opõe a religião da anti-transgressão, mas se manifesta na sua própria essência e aborrece a forma, aborrece o feitio, aborrece o aspecto. É razão e, em seguida, resultado, é conteúdo, nunca simulacro. Os anti cessam de ser anti para ser liberdade de não se deixar putrefazer na concupiscência da carne, para ser liberdade de escolher através do entendimento e não permanecer na condescendência com as transgressões, por causa e por intermédio de Cristo Jesus.
Quando os anti são dilatados ao calibre de catequese preeminente e ao ao nível de objeto de culto, sendo assim elevados à estatura do Pro, é então fomentada uma doutrina paralela ao projeto de livramento da espécie humana, um ensinamento justaposto ao da intercessão divina, ou melhor, umasíndrome muitas vezes recalcitrante, a síndrome do farisaísmo, um genuíno cataclismo espiritual. O miserável empenha-se sobremodo na observância da lei esperando alcançar a redenção, o corpo persiste em subsistir deCAPITado, sujeito às suas autênticas inclinações, subtraído ao Senhor, entregue à matéria, entregue à carne que, na contumácia de um comportamento arbitrário, desesperadamente desarrazoado, se auto-investe das prerrogativas e atributos do Justo para restabelecer, com a verga de uma falsa moralidade, a lei e a ordem sobre o astro lôbrego, o planeta caos.
O fulgor do Pro é eclipsado na exaltação do anti porquanto o resplendor do Pro é causa, enquanto que o anti-sséptico regulador da conduta humana é o seu reflexo manifesto. Inumeráveis foram as vezes em que o nome do Pro foi enodoado na Terra, no picadeiro das tragédias, por Igrejas cristãs revestidas de uma austeridade mefistofélica, inconseqüente e insidiosa, reputada na linguagem bíblica como falsa piedade, a especificidade das religiões dos anti.
Em nome dos anti excessos e crimes jamais cessaram de ser perpetrados, vidas têm sido ceifadas, homens, mulheres e crianças têm sido perseguidos, torturados, assassinados e, no melhor dos casos, estigmatizados, reprovados via anátema no âmago das suas próprias comunidades eclesiásticas e legalistas, no que nada há de surpreendente, pelo que o mundo laico, gentio, pagão, agnóstico, eclesiofóbico, idólatra, já foi, há muito tempo, sentenciado ao fogo do inferno pela justiça própria, antropocêntrica, terrena e blasfematória das Igrejas, e na pessoa de numerosos dos seus preclaros dirigentes et sinceros membros, pretensos detentores do monopólio do discernimento e da inerrância.
Certos princípios morais constituem a marca registada de certas comunidades religiosas contemporâneas, de sorte que um acento particular lhes é imputado. Há um abismo entre princípio e norma. Os princípios divinos não sendo imanentes à natureza do homem não podem ser observados, nem cumpridos, nem vividos pelo homem na ausência do Cristo; esses princípios vão à deriva, metamorfoseando-se em regras, esvaziando-se, inexoravelmente, da sua pujança primordial e transcendente. Verifica-se, assim, que a excelência do Pro é usurpada pela impertinência do anti. No entanto, quando o Pro constitui o alvo supremo da alma pecadora, que de todo o seu coração, de toda a sua força e de todo o seu entedimento O busca, um prodígio é levado a efeito; o Pro assume o controle da alma confessa conferindo-lhe um novo e vivificante modus vivendi. (Expressão latina a ser interpretada literalmente)
As religiões dos anti foram denunciadas, censuradas e desqualificadas pelo Deus invisível, Suas palavras retumbando ainda nos nossos tímpanos ecoam através dos séculos na esperança de serem bem acolhidas e, quiçá, apreendidas.
A obediência à lei divina é ineficaz no que diz respeito a salvação da alma, mas a alma conversa cumpre, de bom grado, a lei, visto que pela fé a lei é confirmada. Romanos 3.:31. Porque se Abraão foi justificado por obras, tem de se gloriar, porém não diante de Deus. Pois que diz a Escritura? Abraão creu em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. Romanos 4:2,3. Logo, é necessário permitir que o Espírito sobrepuge a carne para que a carne, por sua vez, prorrompa em testemunho acerca do Espírito através da expressão do seu novo, convertido e bem-aventurado modus faciendi.
O conglomerado das Igrejas do anti reduz a religião cristã à categoria de código civil secular, desprovido do Amor de Deus e estabelecido sob os auspícios do mistério da iniquidade. A veneração aos anti predispõe a carne a empunhar mais rigidamente o chicote da falsa justiça, essa que, culminando em acessos agudos de humanidade, encerra o cristianismo numa noção psico-sensorial redutora, de sepulcro caiado, que humaniza o Espírito, refuta os atributos do Pro e ignora o sentido profundo da palavra misericórdia.
O Pro é, muitíssimas vezes, preterido, à medida que os anti são glorificados, subvertendo, dessarte, a perspectiva divina de salvação pela fé em Cristo Jesus. Nesse caso são invertidos os valores trinitários, as boas obras reclamam o resgate da alma disciplinada e merecedora, arrazoando que e a Promessa pode estar ao alcance do esforço e sacrifício humanos. A obediência aos preceitos divinos correlacionada com a salvação pela Graça, destinada à raça cognominada caída, não pode ser efetiva, por definição, se não for o resultado inevitável e decorrente da estreita comunhão do necessitado com a Providência.
Assim sendo, o Pro não aboliu o dever de obediência à Sua lei de amor, mas a obediência, ela própria, é a consequëncia desvelada da intimidade espiritual com o Pro.
A relação dita de causa e efeito sugere um limiar de exegese adequado à questão da salvação pela fé confirmada pelas obras, confirmada nas obras, e, graciosamente, proposta aos mortais pelo Autor da vida.
Na imagem da pedra sobre a qual convém esmiuçar-se e sob a qual não convém ser esmiuçado, Mateus 21: 44, é requerida, como o é em tantas outras metáforas bíblicas, a relação já suscitada supra, isto é, no choque com a Pedra, aquele que aceita esmiuçar-se autoriza-se, igualmente, a evoluir (lat. evolutio = desenrolar, fig. transformation gradual e contínua) imbuido do Espírito da Pedra em uma experiência cotidiana de amor na dor, na contenda do natural contra o sobrenatural, na controvérsia entre Dr Jeckel e Mr Hyde; trata-se de um pro-cesso, jamais de um ato, denominado em uma certa teologia bíblica, a santificação pela fé.
A Pedra é sistematicamente rejeitada na busca da lei da justiça, quando essa busca se exprime através do cumprimento das obras da lei, pois que não chega à lei da justiça,porquanto não decorre da fé, mas das obras. De tal maneira que há risco de tropeço na Pedra de tropeço visto que é posta em Sião uma pedra de tropeço e uma rocha de escândalo, e aquele que nela crê não será confundido. Isaías 8:14, Romanos 9; 30- 33.
A justiça só pode ser alcançada pela fé em Cristo, O que se fez justiça, a Pedra sobre a qual a Igreja foi edificada. É preciso permitir, portanto, que a Pedraangular, Salmos 118:22, Mateus 21:42 , Marcos 12:10, Lucas 20:17-18, Atos 4:11, Efésios 2:20, I Pedro 2:7, ponha uma pedra em cima do pecado, para que haja aperfeiçoamento pelo despedaçar na carne o pecado em vista da sua subseqüente, vindoura, integral e definitiva remoção, haja vista que unicamente a Pedra é habilitada a essa operação, porque é igualmente pedra filosofal, a mesma que na alquimia divina se fez apta a transmutar a morte em vida, porquanto o salário do pecado é a morte, mas o dom gratuito de Deus é a vida eterna, por Cristo Jesus nosso Senhor. Romanos 6:23.
É Pedra lavrada, Pedra provada, Pedra preciosa, Pedra angular, solidamente assentada; aquele que crer não foge. Isaías 28:16. E quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. I Pedro 2:6. É Pedra eleita. I Pedro 2:4.
É também Pedra que não atira a primeira pedra, João 8:7, porquanto é Pedra que sai de Judá. Zacarias 10: 4. É fonte espiritual, Pedra espiritual que nos guia, e a Pedra é Cristo. I Coríntios 10:4. O Poderoso de Jacó, Pastor e Pedra de Israel. Génesis 49;:24. A mesma que sem auxílio de mãos e no seu devido tempo ferirá os pés da estátua presente na visão onírica e profética do rei Nabucodonosor. E os esmiuçará e tornar-se-á em grande montanha, que encherá toda a terra. Daniel 2:34-35.
No entanto, é Pedra que foi rejeitada, Pedra que continua sendo rejeitada pelos homens. (cf. supra - versículos sobre a pedra angular), Pedra vilipendiada por multidões e, por multidões, interpretada como pedra no caminho, como pedra no sapato. Pedra de tropeço e rocha de ofensa. São estes os que tropeçam na palavra. I Pedro 2: 8.
A Pedra é o Pro, de fato, é o πρωτότοκος, o pro-eminente, nosso pro-tetor, nosso pro-tagonista. As Igrejas do anti são, sobretudo, as Igrejas do anti-Pro, os deuteragonistas afligidos e tritagonistas moribundos. Aqueles que, após o prólogos e o párodos, interpretam seu trágico papel em cada epeisódios até o êksodos; a saída do coro, que lhes fará tragar a poção cáustica da sua tragédia religiosa, hipócrita, protocolar e discriminatória, de lobo trajado de cordeiro. Mateus 7:15.
Na relação com a Pedra importa que o velho homem morra todos os dias para que o novo homem pro-grida, deixando-se transformar gradualmente e dolorosamente enquanto se prolonga a sua peregrinação terrestre, avançando, de surpresa em surpresa, de estupefacção em estupefacção, de opróbrio em opróbrio, mas também de vitória em vitória. Step by step, o homem espiritual se dá conta da presença iníqua, com certeza cada dia mais atenuada, mais contida, mais subjugada, entretanto sempre presente, do homem carnal.
Aterrado, o apóstolo Paulo, a certa altura exclamou: Miserável homem que eu sou! quem me livrará do corpo desta morte? Romanos 7:24. Quanto mais intensa é a luz mais se é capaz de enxergar o horror da iniquidade subjacente, germinada na carne, contudo, e de uma certa maneira, submetida ao controle do Espírito. Embora o bem (incondicional, imparcial) que eu queira fazer não esteja ao meu alcance fazê-lo, Cristo pode efetuá-lo por mim, através de mim e em mim. Porque, se viverdes segundo a carne, morrereis; mas, se pelo espírito mortificardes as obras do corpo, vivereis. Romanos 8:13. Porque todos os que são guiados pelo Espírito de Deus, esses são filhos de Deus. Romanos 8:14. O segredo reside no reconhecimento de Deus por intermédio de Jesus Cristo, a fim de Lhe render louvores à maneira do apóstolo Paulo, consentindo pelo espírito, pelo entendimento, (gr. nou/j = pensamento, espírito, inteligência, razão, entendimento) ser guiado pelo Espírito de Deus para servir a lei de Deus, porque a inclinação da carne serve a lei do pecado. Romanos 7:25. A história da humanidade nos fala com hedionda eloqüência.
O combate travado entre a carne e o Espírito é incontestavelmente permanente, contínuo, todavia, pelo beneplácito do Onipotente, não perdurará. Certa feita o apóstolo Paulo exortara o converso apóstolo Pedro tempos após haver Pedro recebido a santa chuva por ocasião da celebração da festa de Pentecostes, por conseguinte, já suficientemente experimentado no exercício do seu ministério a não fazer acepção de pessoas. Fazer acepção de pessoas é obra da carne, logo, procede do mistério da iniquidade. O novo Pedro se surpreendeu, segura e tristemente, com repentina e inesperada insurreição do velho Pedro, o Pedro kata sarka. Galatas 2:11-21. Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Romanos 7:19. Aqui jaz o conflito que habita cada íntimo, cada Pedro (gr. pe,tra / lat. petra = pedra, rocha, rochedo) que aceita esmiuçar-se contra a Pedra .
A salvação pela fé nos méritos da Pedra é, obviamente, de cunho cosmico, mas se cristaliza em uma dimenção individual. As coletividades cristãs, por meio de uma abordagem interativa, através de uma perspectiva sinergética, podem, eventualmente, assegurar seu responsável auxílio à alma contrita e desejosa de perdão a ascender à beatitude em uma existência póstuma, via ressurreição; bem como, podem, desgraçadamente, contribuir com a apostasia e provável perda de tantas outras almas que, possuídas pelos mesmos anseios de redenção, não mais se erguerão de uma provável e irreversível queda.
Arquitetos da nossa própria qualidade de vida? Certamente! Artesãos do nosso próprio destino? Seguramente! Entretanto, se a ajudinha que é amiúde conferida, aquela que predispõe negativamente e peremptoriamente cada alma ao dia escatológico, a ajudinha maléfica, a ajudinha procatártica, onipresente, provém, freqüentemente, de outrem, da sua natureza fundamental não domada.
Na esfera das comunidades religiosas essa ajudinha é fornecida por muitos membros e ministros que interpretam seu nefasto papel nos teatros eclesiásticos das assembléias formalistas, as congregações dos anti, inimigas da Pedra, conquanto cumpridoras supostas e irrepreensíveis da lei. Si assim não fosse, convenhamos, a injustiça não seria um componente deste agonizante mundo.
Que Deus tenha misericórdia dos miseráveis e impiedosos pecadores que nós somos, para que nenhum de nós venha encarnar um dos personagens da pilhéria, em suma, assaz reveladora, das três surpresas penosas, futuras e derradeiras, no Hades. Você, por aqui?
Le Père Louis (Luiz MacPontes)